Desenvolvimento de um texto analítico mostrando domínio dos conceitos de Hertzberger
A Casa da Glória é composta por dois
casarões de épocas distintas. A primeira construção foi uma residência de
família, intendentes e bispos, posteriormente, esse edifício se tornou um
Educandário que assimila o casarão ao lado, construindo o passadiço para a
passagem entre eles. A escolha do espaço para a intervenção foi o segundo
edifício constituído por dois andares, especificamente o grupo se
responsabilizou pelo primeiro andar, o qual na planta baixa possui duas salas,
um pátio descoberto de entrada, uma área de circulação, dois banheiros e um
jardim. Para demarcar a entrada,
invertemos o fluxo original que se constituía da entrada por uma porta menor
dando acesso a algumas salas de aulas da turma de geologia e depois ao nosso
espaço escolhido.
Na lógica da intervenção, usamos a entrada do
portão de acesso ao pátio de área descoberta, seguindo esse novo fluxo
observamos que o visitante vem pela rua, um local de domínio público, acessado
por todos, independentemente se for residente local de Diamantina, turista ou
estudante, qualquer indivíduo passa pela rua e adentra ao nosso espaço, que se
torna uma área de domínio parcialmente privada pela Casa da Glória, uma vez que
o “cliente” precisa estabelecer algum vínculo para se sentir convidado a passar
pelo portão em arco, como a vontade de descansar, ou tomar café, e, também, de conviver
com outras pessoas. Seguindo esse pensamento, a primeira sala é de uso mais
amplo (público), podendo ser e quando houver exposições de artistas com
quadros, pinturas e obras de arte. A segunda sala, onde possui uma estante de
livros, puffs grandes e confortáveis, mesas para estudos, foi destinada para o
uso privado, sendo um lugar mais reservado, mas que comunica também com a
primeira sala. Além disso, o conceito de público e privado se aplica nas
maneiras de sentar nas mesas do jardim, uma vez que duas mesas possuem 5 a 8
assentos, podendo ser destinadas a reuniões, grupos de estudantes a discutirem
suas ideias em grupos, bem como outras pessoas que queiram fazer novas amizades
com outras pessoas, ou seja, um local de interação. Nesse mesmo lugar, possui
dois patamares que os clientes podem se sentar em dupla, mais reservado e
privativo, e, também, há banquetas fixas ao chão individuais dispostas ao longo
do balcão, o qual se destina àqueles que queiram sentar-se próximo ao balcão ou
fazer uma refeição rápida.
É relevante ressaltar que grande parte
da Casa da Glória é tida como um lugar de passagem, como os museus, onde as
pessoas passam, admiram, tiram fotos e vão embora, é incrível observar os
conjuntos arquitetônicos, as formas, as disposições, as cores da casa, as
histórias, entretanto, a partir dessa análise o grupo desenvolveu um espaço de
permanência temporária e de descanso, ao analisar a ausência de lugares para
alimentação dentro do “Museu Glória”, como o simples ato de tomar café pela
manhã, ou um lanche à tarde, (o único lugar para realizar tais atividades
situa-se a alguns metros de distância, confrontando com as irregularidades do
relevo de Diamantina, pouco acessível). Logo, integramos o ato de se alimentar
com o objetivo de permanecer no lugar e um meio de interação entre as pessoas.
“...os objetivos múltiplos que a
estrutura original permitiu não foram deliberada ou intencionalmente inseridos
na estrutura...”. A partir dessa premissa, elegemos alguns elementos da
intervenção capazes de desempenharem funções distintas sob circunstâncias
adversas, e de cumprir deste modo um papel diferente dentro do próprio espaço.
A princípio temos as prateleiras suspensas flexíveis com engastes de variadas
posições, ao mesmo tempo pode-se puxa-las e virarem banco de assento com mesas,
de acordo com a altura da pessoa é possível regular onde quer sentar e onde
apoiar os braços, essa ocasião, em específico, seria se a pessoa optasse por
sentar/apoiar algo, como notebook, livro, café, dentro da sala de exposições,
bem como serviria, em outra demanda, o suporte para quadros de artistas em
exposições. Outro elemento observável é a sala de descanso, do café com
literatura. Essa sala pode ser usada para fins acadêmicos, quanto para repouso
de um visitante que já subiu e desceu escadas em toda a Casa da Glória, como
para um grupo de estudantes menor que queira deliberar suas ideias, visto que o
complexo da Casa da Glória recebe muitos estudantes de várias faculdades
mineiras. Ademais, pensando no aspecto climático que induz o jardim a exercer
ocupação dupla, nos dias ensolarados tem a cobertura de vidro de uma das mesas,
que serve tanto sol e chuva, porém em períodos chuvosos o fluxo de pessoas vai
ser reduzido no jardim por apresentar poucos espaços cobertos, induz o
visitante a permanecer nas salas.
As formas de articulação entre os
ambientes foram escolhidos pela cor, formato e o tipo de material. Em primeiro
plano, a cor da casa permaneceu de modo a obter comunicação com o restante da
casa e evitar o distanciamento da ideia de casa colonial. Em segundo plano, o
assoalho de madeira de dentro da casa refletiu nas mesas de madeira dispostas
no jardim com deck’s no chão e pequenos retalhos de madeira no chão de pedra
para indicar uma ordem no fluxo de pessoas no jardim. Também assemelha-se o
balcão de madeira, com a função de convidar os visitantes/turistas a consumirem
café tanto no jardim como no interior da casa. E por último, a escolha do
formato do balcão e das mesas foi com o escopo de dar um contraste na forma
rígida linear do assoalho de madeira da casa para as formas fluidas das mesas e
do balcão, que diverge novamente com o deck do chão, com pequenos pedaços de
madeira que formam um retângulo para dar lugar às mesas.
No que se concerne ao intervalo (transição e a conexão entre áreas com demarcações territoriais
divergentes e, na qualidade de um lugar por direito próprio, constitui,
essencialmente, a condição espacial para o encontro e o diálogo entre áreas de
ordens diferentes, o público e o privado). Abstraindo esse conceito, as
janelas da sala de estudos, mais reservadas, servem como um intervalo do
ambiente privado para o público que é o jardim, como já havia mencionado
anteriormente. Essa comunicação entre esses dois espaços é devido ao fato de
uma pessoa ver a outra não por completo, mas apenas em parte – por causa das
delimitações da janela, suas bordas e seu tamanho, a exemplo, uma pessoa em
interação com seu grupo de amigos no jardim consegue ver uma outra pessoa na
sala mais reservada, lendo ou estudando, e, assim, vice-versa.
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